por Nilma Gonçalves
Estudos ao redor do mundo mostram que as crianças aprendem sobre características raciais antes mesmo de se colocarem em pé para andar. Dessa forma, não é exagero dizer que a educação antirracista deve ter início desde muito cedo, e isso passa inclusive pela diversidade em livros aos quais ela tem acesso. Mãe de Serena, de 4 anos, e de Martin, de 1, a jornalista Natália Paiva, 37, não apenas acredita nisso, como decidiu ela mesma escrever os livros que gostaria que seus filhos lessem. No centro, estão crianças e bebês negros fabulando sobre o mundo ao redor e em relações de afeto com seus pais. ‘Martim Barulim - Os sons do bebê’ e ‘A incrível Serena contra o temível Aspiraldo’ marcam a estreia de Natália como escritora de literatura para a infância.
Os protagonistas das duas obras são crianças negras que brincam, dormem e recebem carinho dos pais, exercitando sua imaginação. “Temos livros maravilhosos no mercado brasileiro sobre igualdade racial e empoderamento negro infantil, então minha pequena contribuição foi em aumentar a oferta de histórias que celebrem a fabulação e o protagonismo negro infantil, com famílias negras cheias de afeto”, ressalta.
Jornalista de formação e atuando agora na área de tecnologia, Natália Paiva conta que seu lado escritora renasceu junto com os filhos. “Quando Serena nasceu, passei a ler muito com ela. Foi um movimento que trouxe de volta meu antigo desejo de escrever, de contar histórias, algo que sempre tive, mas havia adormecido, principalmente porque minha vida profissional foi por outro caminho”, conta ela, que acredita ainda haver poucos escritores negros publicados mas que esse cenário está sob forte mudança. “Historicamente, tivemos menos gente tendo espaços para criar, para contar outras histórias, nisso todo mundo perde. Que bom que estamos em um momento em que isso está mudando, mas, obviamente, ainda precisamos caminhar muito”, avalia.
Diante do racismo estrutural - que, segundo a educadora norte-americana Beverly Daniel Tatum envolve a sociedade como uma espécie de poluição (às vezes perceptível, às vezes não) -, Natália diz ser urgente a aplicação de uma educação antirracista: “Os pais precisam ter intencionalidade, garantir que seus filhos despertem a diversidade no olhar, que consumam obras protagonizadas por pessoas negras. Isso não apenas na literatura, mas também no cinema, no teatro, nas animações”, afirma Natália. A jornalista, que já escreveu artigos sobre o tema para a Folha de S. Paulo e o El País, assina a conta @aloucadoslivrosinfantis no Instagram, onde dá dicas de publicações e levanta reflexões importantes sobre as infâncias.
Para ler, assistir e cantarolar
Os livros ‘Martim Barulim - Os sons do bebê’ e ‘A incrível Serena contra o temível Aspiraldo’ são multimídia e foram desenvolvidos para diversas plataformas. Além dos textos, é possível ter acesso a vídeos e músicas sobre os personagens, através de um QR code disponibilizado nas contracapas. O livro inspirado em Serena terá uma versão contada também nos Stories, no perfil da Solisluna (@solislunaeditora). “Eu queria que meus livros dialogassem com o mundo multiplataforma em que vivemos. Para mim, é reconhecer que as histórias se expandem para além do livro em si. Pensei como seriam estas obras no audiovisual, cantadas, lidas no celular, nas redes sociais”, afirma Natália, que na sua vida profissional é responsável pela área de Políticas Públicas do Instagram na América Latina, foi consultora na McKinsey & Company, dirigiu a ONG Transparência Brasil e foi jornalista da Folha de S.Paulo.
Para a brincadeira ficar completa, ela contou com diversas parcerias. A cantora Cris Barulins (@crisbarulins) compôs e cantou as músicas, a Rebimboca (@estudiorebimboca) produziu os vídeos e Luísa Amoroso (@aluisaamoroso) ilustrou os livros. “Quando Natália me convidou para compor com ela essas duas lindas histórias, fiquei muito feliz”, relembra Luísa. “Me inspirei em seu texto poético, na minha experiência pessoal como mãe e nas nossas muitas conversas. Debatemos cada detalhe, cenários, roupas, cabelos, gestos. Definimos juntas o que ia ser dito no texto, o que ia ser dito na imagem. Foi um diálogo de soma e muito aprendizado para mim”, garante a ilustradora. Outro processo em desenvolvimento é o de transformar os personagens dos livros em brinquedos de pelúcia, feito em edição limitada pela Ateliê da Pigly (@ateliedapigly).
Uma parceria fundamental no processo de publicação foi com a editora Valéria Pergentino, sócia-diretora da Solisluna, por onde Natália Paiva fez questão de editar seus livros. “Ter conhecido o trabalho da Solisluna foi um bálsamo. É incrível ver o trabalho que a editora tem feito, de levar literatura de altíssima qualidade em todos os níveis. Eu acho incrível que o trabalho de edição, projeto gráfico, escolha de papel, tudo, é muito sofisticado. E mais maravilhoso ainda que isso seja feito fora do eixo Rio-São Paulo”, destaca a escritora, que é cearense, mas mora em São Paulo.
“Não tenho nem palavras para expressar como eu me sinto feliz e honrada em fazer parte de um projeto da Solisluna, que é uma editora que preza muito pela qualidade e faz isso com um olhar muito sensível, de reconhecer as multiplicidades do Brasil e de apostar em narrativas diversas e ousadas, inclusive no catálogo infantil”, celebra Natália Paiva.
A incrível Serena contra o temível Aspiraldo (R$55,00) - Serena é uma menina muito imaginativa. Enquanto o pai aspira diversos espaços da casa, Serena se transforma ora em rainha, ora em sereia, bailarina ou fada, lutando com seus amigos imaginários contra um temível monstro de nariz longo que tudo quer sugar. Em uma narrativa sonora e cheia de rimas o livro nos leva ao universo infantil que transforma o cotidiano do ambiente doméstico em fantasia, sorrisos e muito afeto.
Para saber mais: www.solisluna.com.br