Enquanto músicos e atores apresentam seu trabalho nos palcos pela vida afora, vendo seu público, suas reações e interagindo com eles, os escritores trabalham sozinhos em casa, batalham para conseguir publicar e depois o livro vai para as livrarias, como uma mensagem na garrafa lançada ao oceano por um náufrago desesperado em busca de um retorno de alguém.
Claro que existem as resenhas e críticas nos jornais, sites e blogs por aí. Ainda que hoje em dia se publique mais os releases enviados pelas editoras do que análises sobre o livro, elas são fundamentais para que o autor saiba como está sendo recebido e entendido. Ainda assim, esse é um terreno pantanoso...
Quando meu último livro saiu, o “Xing Ling made in China”, pela Solisluna, várias críticas e matérias foram publicadas, desde uma dizendo que o texto “remete aos versos de escárnio do poeta colonial Gregório de Matos, mas sem deixar de recordar o deboche do velho Cuíca de Santa Amaro”, a outra que em que o jornalista me pergunta as influências do livro e eu cito Aldous Huxley, George Orwell e outros autores, aí ele diz que “embora o autor negue, fica claro que Harry Potter foi influência na sua literatura”. Logo eu, que nunca li Harry Potter e nem falei nada sobre ele, até por absoluto desconhecimento do tema.
O fato é que a literatura pede mais do público do que outras formas de arte. O cara pode dirigir enquanto ouve música ou dar uma olhada no Facebook enquanto assiste a um filme, mas quando o sujeito pega um livro pra ler, tem que ter dedicação exclusiva, prestar atenção e, de vez em quando, tem até que dar uma olhada no dicionário pra entender uma palavrinha esquisita que o escritor usou só pra dificultar a sua vida.
E como pedir atenção exclusiva num mundo em que a televisão tem mais de 200 canais, o smartphone tem mais de 400 aplicativos, o Facebook tem mais de 800 amigos e tem mais de 1600 músicas e filmes baixados para serem degustados?
É difícil...
É difícil, mas se fosse fácil não tinha graça! E é por isso - entre muitos outros motivos de psicológicos a psiquiátricos - que eu e tantos outros escrevemos e, no meu caso, não pretendo desistir. A menos que a literatura desista de mim.
Mas aí já é outra história...
Victor Mascarenhas é escritor e roteirista. É autor de "Xing Ling made in China" (2013) publicado pela Solisluna.